Edson Arantes do Nascimento mudou os rumos do futebol brasileiro.
O
futebol brasileiro tem vários personagens. Mas nenhum deles tem o
protagonismo de Edson Arantes do Nascimento. A importância de Pelé é
tamanha que é possível falar que, a partir dele, o mundo mudou a forma
de ver os jogadores e a seleção do Brasil.
Biografia de Pelé
A
trajetória daquele que viria a ser conhecido como o rei do futebol
começa de forma muito comum. Nascido em 23 de outubro de 1940, na cidade
mineira de Três Corações, Pelé vem de “uma família das classes
populares, que trabalhava duro para educar os filhos”, diz o pesquisador
do MEMOFUT (Grupo Literatura e Memória do Futebol) Rodrigo Saturnino.
Ainda
na infância, um fato parece definir sua relação com o futebol. Ao ver o
pai, o ex-jogador José Ramos do Nascimento, o Dondinho, chorar após a
derrota da seleção brasileira na final da Copa do Mundo de 1950, o
pequeno Edson promete que conquistaria o primeiro Mundial do país.
Mas
antes de cumprir esta promessa, Pelé daria os primeiros passos no
esporte na cidade paulista de Bauru, para onde a família dele se mudou
durante sua infância. Lá defendeu várias equipes amadoras de futebol de
campo e salão, até que, ao completar 15 anos, foi levado para fazer um
teste no Santos. Aprovado, foi contratado em junho de 1956 e começou a
defender a equipe da Vila Belmiro.
No Santos, desandou a marcar
gols, o que lhe garantiu a primeira convocação para a seleção brasileira
em 1957 para participar da Copa Roca, competição na qual fez seu
primeiro tento e iniciou uma caminhada de conquistas.
Rei desde jovem
A
qualidade de Pelé era tamanha, que a ideia de que ele era o rei do
futebol surgiu antes mesmo da conquista de um título de expressão pela
seleção. Jovem ainda, com 17 anos, meses antes da disputa da Copa de
1958, o dramaturgo Nelson Rodrigues se referiu ao jogador da seguinte
forma em uma crônica sobre o jogo entre America e Santos: “O que nós
chamamos de realeza é, acima de tudo, um estado de alma. E Pelé leva
sobre os demais jogadores uma vantagem considerável: – a de se sentir
rei, da cabeça aos pés. Quando ele apanha a bola e dribla um adversário,
é como quem enxota, quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento”.
A
coroação definitiva vem com a conquista dos títulos das Copas do Mundo.
“Em 1957, o futebol brasileiro estava por baixo, com a derrota para a
seleção uruguaia em 1950, a apenas regular participação na Copa de 1954,
os resultados fracos durante uma excursão à Europa em 1956 e o fraco
desempenho no Campeonato Sul-Americano de 1957 (…). E surge Pelé, com 17
anos. O futebol brasileiro então passou de 5ª a 6ª força para ser,
indiscutivelmente, o melhor do mundo. Com Pelé e Garrincha, a seleção
nunca perdeu. Foram três títulos mundiais em quatro Copas. Pelé foi o
principal responsável por esse desempenho. A identificação da seleção
com o povo brasileiro atingiu seu ponto máximo. Pelé se transformou na
face do Brasil bem sucedido, o brasileiro mais reconhecido da história,
em todo o mundo”, diz Saturnino.
O sociólogo e professor da
Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Rio de Janeiro (Uerj)
Ronaldo Helal concorda e afirma que Pelé foi fundamental para a seleção
acabar com a história de que teria um complexo de vira-latas (expressão
de Nelson Rodrigues) que a impediria de conquistar títulos: “Em 1958 o
Brasil ganha a Copa do Mundo, e Pelé foi marcante, se tornando o rei do
futebol com 17 anos de idade”.
Auge no México
Entre
estas conquistas uma ocupa um lugar especial na história do futebol, a
da Copa do Mundo de 1970, no México. Foi nesta competição que Pelé
mostrou todo o seu potencial como jogador. “Em 1970 ele foi fundamental,
fez uma Copa ímpar, brilhante do início ao fim, e colocou o Brasil no
topo do futebol mundial”, diz Helal.
Clodoaldo, um dos
companheiros de Pelé naquela campanha, compartilha desta opinião: “Foi o
melhor momento do Pelé na seleção brasileira. O vi em 1970 como nunca,
preparado nos aspectos físico, técnico e psicológico. Ele estava voando.
Foi o momento no qual atingiu o máximo de sua carreira”. Nesta
competição o futebol brasileiro alcançou um novo patamar, passando a ser
admirado em todo o mundo, como mostra este filme produzido pela Fifa:
Quantos gols Pelé fez
O
sucesso de Pelé não se deve apenas à seleção. Foi pelo Santos que ele
marcou a maior parte dos seus 1281 gols (em 1363 jogos), que o
transformaram no maior goleador da história do futebol mundial. O tipo
de feito que fez com que o público o tratasse de uma forma especial. “O
Pelé foi o único jogador, pelo menos que eu saiba, que fazia uma boa
jogada contra um time, ou um gol de placa, e a torcida adversária
aplaudia, às vezes de pé”, diz Helal, que é torcedor do Flamengo,
citando as oportunidades nas quais, em sua infância, ia ao estádio
simplesmente para ver o camisa 10 do Santos entrar em campo.
Um
destes gols mobilizou a atenção do público de forma especial, o de
número mil, alcançado no dia 19 de novembro de 1969 em vitória de 2 a 1
do Santos sobre o Vasco no estádio do Maracanã. O detalhe é que Pelé
tinha apenas 29 anos ao alcançar esta marca.
Fórmula secreta
Tantos
feitos levam à pergunta: como um menino comum, nascido em Minas, se
transformou no rei do futebol? “O destaque na história do futebol vem de
seu talento e sua técnica, por ter sido o único a fazer
excepcionalmente bem, dentro de campo, tudo o que um jogador de futebol
pode fazer. Selecione um atributo, e Pelé foi um dos melhores”, afirma
Saturnino.
O ex-jogador Pepe, companheiro de Santos e seleção do
eterno camisa 10, defende que um jogador com estas características surge
apenas uma vez na história: “No futebol atual têm aparecido grandes
jogadores. Porém, igual a Pelé não aparece. Completo, perna direita,
perna esquerda, impulsão, chute, cabeceio, corrida, gols, maior
artilheiro do futebol mundial de todos os tempos. Penso que seu Dondinho
e dona Celeste rasgaram a fórmula e não aparece mais um jogador igual a
Pelé”.
Vida longa ao rei
Desta forma é
mais do que justa a celebração da vida de um jogador que foi o melhor em
todos os fundamentos de seu esporte, superando inúmeros recordes
coletivos e individuais e levando o futebol brasileiro a um novo
patamar.
Ao completar 80 anos, é a hora, como diz Clodoaldo, de
agradecer e de desejar que “tenha muita saúde, paz e felicidade. E
claro, vida longa ao rei”.
Por Agência Brasil
Foto: Ricardo Stuckert/CBF/Direitos Reservados